Enxaqueca e Ansiedade

Por Juliane P. P. Mercante

A comorbidade entre enxaqueca e transtornos psiquiátricos vem sendo enfatizada como um dos aspectos mais importantes no tratamento de indivíduos com cefaleias primárias. Os transtornos de ansiedade, além dos depressivos, são um dos diagnósticos de maior importância neste contexto. Dentre os transtornos psiquiátricos, os transtornos ansiosos são os mais prevalentes na população. O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é o transtorno de ansiedade com maior prevalência na população (5.1%) e o mais associado à enxaqueca. [1] Em 60% das pessoas com TAG a enxaqueca também esta presente, contra 15% na população geral. [1] Mas também as fobias, transtorno do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo são mais comuns. A enxaqueca crônica apresenta comorbidade mais elevada com depressão e transtornos de ansiedade.

Enxaqueca e TAG, TAG e Enxaqueca

Enxaqueca e outras cefaleias primárias aumentam o risco para o início e/ou agravamento do transtorno de ansiedade e o transtorno de ansiedade aumenta o risco do aparecimento de enxaqueca e outras cefaleias. [2] O último efeito parece ser mais consistente, devido ao fato da idade de início do transtorno de ansiedade ser anterior ao da enxaqueca episódica. De fato, sintomas de ansiedade como dificuldade de relaxar na maior parte do tempo aumenta as chances de ter enxaqueca em 25 vezes, enquanto sentir-se incapaz de controlar preocupações na maior parte do tempo aumenta 50 vezes esse risco! [2]
As cefaleias em indivíduos ansiosos podem ser experimentadas como mais intensas, nocivas e ameaçadoras. A catastrofização é esta percepção errônea de sinais corporais não patológicos como sinal de doença orgânica grave e é o processo de pensamento que mais influencia a percepção da dor. A ansiedade antecipatória pode criar um foco excessivo nas sensações corporais que sinalizem qualquer iminência de ameaça de crise de enxaqueca, esta hipervigilância cria um estado de alerta que pode ser crucial para o desenvolvimento e manutenção da ansiedade e cefaleia. A expectativa excessiva de ter crise de enxaqueca pode exacerbar ou potencializar a próxima crise.
Indivíduos com enxaqueca (principalmente crônica), podem ter comportamentos fóbicos particulares relacionados às crises de cefaleia, medo de ter outra crise de enxaqueca (durante o período sem dor) e medo da dor piorando a crise durante um episódio de cefaleia de intensidade leve (“cephalalgiaphobia”) [3]. O uso excessivo de medicação pode ocorrer por dificuldade em suportar a dor, medo que a dor surja e para diminuir a ansiedade. A cephalalgiaphobia provavelmente está relacionada à progressão da enxaqueca episódica em crônica e ao uso excessivo de medicação.

Infográficos da relação entre ansiedade e enxaqueca

Tratamento da Ansiedade e Enxaqueca

A comorbidade entre enxaqueca e transtornos de ansiedade agrava a condição de ambos, enxaqueca e ansiedade. A frequência, intensidade e duração das crises de dor nas cefaleias são mais agravadas em indivíduos ansiosos. A avaliação e diagnóstico destas condições pode representar oportunidades de tratamento farmacológico e psicoterápico, principalmente terapia cognitivo-comportamental que corrija distorções de pensamento, alivie a ansiedade e técnicas de controle de dor, como respiração, relaxamento e mindfulness.

Referências:

[1] Mercante J, Peres M, Bernik A (2011) Primary headaches in patients with generalized anxiety disorder. J Headache Pain 12:331–338. doi: 10.1007/s10194-010-0290-4.

[2] Peres M, Mercante J, Tobo P, et al (2017) Anxiety and depression symptoms and migraine: a symptom-based approach research. J Headache Pain 18:1–8. doi: 10.1186/s10194-017-0742-1.

[3] Peres MF1, Mercante JP, Guendler VZ, et al (2007) Cephalalgiaphobia: a possible specific phobia of illness. J Headache Pain. 8(1):56-9.

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