Enxaqueca além da dor: Distúrbios sensoriais.

A enxaqueca é uma doença que afeta os 5 sentidos. Deixando a dor de cabeça de lado (o que já não é pouca coisa), muitos outros sintomas que compõem a doença são resultado de disfunções sensoriais. Hipersensibilidade à luz (fotofobia), sons (fonofobia) e cheiros (osmofobia), náusea, vômitos, a aura visual, alodínia (aquela dor no couro cabeludo ao pentear ou fazer rabo de cavalo), além de outros menos comuns.


Segundo o Dr Peter Goadsby, do King’s College de Londres, Reino Unido, um dos maiores pesquisadores de cefaleias no mundo, a enxaqueca é “uma tendência do cérebro em perder o controle sobre os estímulos que recebe”.

Esses distúrbios sensoriais tornam evidente que a enxaqueca é muito mais do que uma dor de cabeça e que afeta a funcionalidade das pessoas de forma ampla e significativa. Mas para se ter ideia de como a enxaqueca influencia essas alterações sensoriais, em um estudo publicado mês passado, pesquisadores da Universidade de Dresden, Alemanha, investigaram a resposta ao estímulo tátil (toque leve na pele) de pessoas com enxaqueca.


Além do aspecto discriminatório do estímulo tátil (localização, pressão do estímulo), os pesquisadores avaliaram aspectos afetivos do toque, ou seja, sensação de prazer associado ao toque. Os pesquisadores aplicavam diferentes velocidades de toque com um pincel no antebraço e bochecha (região inervada pelo nervo trigêmeo, que transmite a dor de cabeça) e mediram as respostas de prazer, desconforto ou dor associados. Foi medido também o efeito de repetidos estímulos seguidos (30 estímulos repetidos em 60 minutos de teste).


Cinquenta e duas pessoas sem enxaqueca (controles) e 52 pacientes foram testados. Os pacientes reportaram maiores escores para dor em ambas as áreas aplicadas (antebraço e bochecha) e menor sensação de prazer no teste de estímulos repetidos. Interessante mencionar, pacientes que faziam uso de triptanos para abortar suas crises, mostraram escores normais. Segundo os autores, os mesmos processos neurofisiológicos relacionados à alodínia poderiam explicar esses resultados.


Essa perturbação da função sensorial é específica da enxaqueca. Em outro estudo, conduzido por dois grupos de pesquisas nos EUA e Israel, o perfil sensorial avaliado através de estímulos de pressão e temperatura foram comparados entre pessoas saudáveis e pacientes com cefaleia pós-traumática persistente (um tipo de cefaleia secundária, causada por trauma na cabeça). Os pesquisadores subdividiram os pacientes em 2 grupo principais com base nas características das dores, um grupo de pacientes com dores de cabeça semelhantes à da enxaqueca e outro com dores semelhantes à cefaleia do tipo tensional.


O grupo com característica semelhante à enxaqueca não apresentou diferenças substanciais no perfil sensorial em relação ao grupo saudável, mostrando, assim, que tipos diferentes de cefaleias têm origens e causas distintas e modificam a função sensorial de forma diferente, como destacado pelos autores.


Como a enxaqueca é um tipo de cefaleia primária, ou seja, ela é a doença e não consequência de outras causas (como a cefaleia pós-traumática causada por trauma), esses estudos dão ênfase na particularidade da enxaqueca como uma doença neurológica que causa muitas outras limitações sobre a saúde além da dor.

Referências:

https://doi.org/10.1177/0333102419889349

https://doi.org/10.1177/0333102419896368

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