Enxaqueca: A dor que derruba até gigantes!

Quem nunca ficou impressionado com a força, explosão muscular, agilidade, impulsão e, claro, tamanho dos jogadores da liga Norte-Americana de basquete (NBA)?

Pois bem, sabia que até esses “super-homens” podem sofrer com a enxaqueca? E mais, você pode imaginar que uma crise de enxaqueca pode ter custado até um título da NBA?

Enxaqueca: “Last Dance…”

Em 1990, na disputa das eliminatórias pela Conferência Leste, Scottie Pippen, o 2° melhor jogador do Chicago Bulls, entrou em jogo contra o Detroit Pistons com uma crise de enxaqueca que começara um dia antes. O time, que apesar de contar com o maior jogador da história do basquete, Michael Jordan, já encontrava dificuldades na partida. Mas com a queda de desempenho pela enxaqueca de Pippen, o time acabou perdendo e sendo desclassificado nessa partida, perdendo a chance de disputar o tão sonhado título.

Michael Jordan e Scottie Pippen. Imagen da internet

Em entrevista ao jornal Chicago Sun Times, à época, Pippen disse: “Eu estava rendendo 75%, a crise de dor de cabeça começou Sábado (dia anterior). Eu achei que tinha cessado porque dormi bem e acordei bem. Mas a crise voltou no aquecimento da partida e eu nem conseguia ensaiar os dribles. Eu ficava com visão dupla às vezes, mal conseguia enxergar meus companheiros de time e estava desconfortável com a posse de bola.”

Phil Jackson, técnico do Bulls, declarou: “Ele jogou, mas não era ele mesmo”.

Foi uma das piores atuações de Pippen na carreira, que até hoje desperta profundo lamento em Michael Jordan, como relatado no Episódio 4 do seu polêmico documentário “Last Dance”, disponível na Netflix.

Enxaqueca: “The Flash”

Mais recentemente, na temporada de 2015 da NBA, Dwyane Wade, conhecido como “The Flash”, um dos maiores ala-armadores da história da NBA e do Miami Heat, acabou abandonado a partida contra o Atlanta Hawks por uma crise de enxaqueca também.

“Ela simplesmente apareceu, minha vista começou a ficar embaçada, todas essas luzes do ginásio…. o nervosismo da partida… eu não consegui jogar mais…”, foi o que Wade declarou em entrevista ainda nos vestiários.

O caso despertou curiosidade e surpresa inclusive nos apresentadores do jornal esportivo da rede de TV FOX Americana: “É uma situação interessante, é pertubador e as pessoas do lado de fora ficam tentando imaginar o que está acontecendo”, destacou um deles.

Basquete e a Aura da Enxaqueca

Sabia que o basquete têm uma relação interessante com a própria descoberta dos mecanismos da enxaqueca? Notem que tanto na crise de Pippen e Wade, dentre os vários sintomas incapacitantes relatados, a alteração visual foi marcante. Conhecida na terminologia médica como aura visual, a aura da enxaqueca acomete cerca de 30% dos pacientes, geralmente precede a dor de cabeça, dura de 5-60 minutos e pode se manifestar de formas variadas, como pontos luminosos, linhas zigue-zaque, pontos escuros, chuviscos, além de embaçamento ou imagens duplas, como no caso dos jogadores.

Diversos pesquisadores no mundo todo tentam descobrir os mecanismos da aura, pois acredita-se que eles também estejam envolvidos na própria enxaqueca. Em um dos estudos mais importantes conduzidos até aqui, pesquisadores do Massachussets General Hospital, nos Estados Unidos, usaram técnicas de imagem para investigar os fenômenos neurológicos por trás da aura visual. Coordenados pelo Dr Michael Moskowitz, um expoente no estudo das cefaleias, o estudo analisou um voluntário que reportava crises de enxaqueca com aura quando jogava basquete por muito tempo. O voluntário ficou praticando basquete continuamente nas instalações do hospital por mais de 1h, até ser conduzido ao aparelho de ressonância magnética. Esse estudo mostrou diversos fenômenos eletrofisiológicos e neurovasculares ocorrendo durante a aura visual do paciente até o início da dor de cabeça e ajudou muito a avançar o entendimento da aura e da enxaqueca.

Para aumentar a conscientização dos problemas e incapacidade gerados pela aura em pacientes com enxaqueca, a ABRACES promoveu o “Concurso de Arte: Aura da Enxaqueca”, no ano passado, onde os pacientes inscritos foram desafiados a fazer trabalhos artísicos para representar suas próprias auras. Os resultados foram anunciados no Congresso Brasileiro de Cefaleia em Outubro de 2019 e estão publicados na Headache Medicine, a revista médica da Sociedade Brasileira de Cefaleia. O artigo está disponivel (em Inglês) no link abaixo:

Representações artísitcas da aura, criada pelos próprios pacientes. Concurso de arte “Aura da Enxaqueca”, promovido pela ABRACES.

Enxaqueca: Campeã de Incapacidade

Os relatos dos jogadores de basquete refletem uma estatística de saúde pública pouco divulgada. A enxaqueca é a 2ª doença que causa mais incapacidade no mundo, a n° 1 entre mulheres entre 15 e 49 anos, segundo o Estudo do Impacto Global das Doenças (o Global Burden of Disease). No Brasil, é a 4ª causa de perda de trabalho, estudos ou afazeres domésticos, segundo dados do estudo PNS2013 (ver infográfico do observatório de cefaleias da ABRACES).

O Caso do jogador Scottie Pippen é emblemático, pois como um profissional em trabalho, sua crise resultou em uma queda de trabalho (presenteísmo), levando a “falta” no trabalho com sua saída de quadra (absenteísmo). No Brasil, estima-se que R$67,7 bilhões sejam perdidos por presenteísmo e absenteísmo causados pelas cefaleias, especialmente a enxaqueca (ver esse outro infográfico do observatório de cefaleias da ABRACES). Assim, a enxaqueca tem tirado muitas pessoas “das quadras” de suas vidas pessoais, com perda de trabalho, queda de produtividade, além de prejuízo de relações pessoais e sociais.

Por isso, a Sociedade Brasileira de Cefaleia orienta que pessoas com mais de 3 crises de dores de cabeça por mês, nos últimos 3 meses, devem procurar tratamento, pois é quando as crises começam a prejudicar profissional e socialmente.

Compartilhe esse artigo e ajude a espalhar informação sobre a enxaqueca.

E bola pra frente!

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